Precisamos nos tornar cofundadores do Brasil: o que o empreendedor aprende em Israel


Viajei para Israel recentemente para entender a fundo o que levou um país pequeno que lutou muito a se tornar a nação mais empreendedora e inovadora do mundo. Berço de startups como Waze, e tendo 60% do seu território ocupado pelo deserto, Israel é a prova do que o ser humano é capaz de fazer quando quer construir algo com significado.
É provável que existam mais startups em Israel do que padarias no Brasil, além do país ter mais empresas na Nasdaq do que qualquer outra nação no mundo.
Mas por que Israel? A explicação está na história recente do país, que foi fundado em 1948 e precisava ser construído do zero e de forma rápida. Quando seus criadores assumiram a empreitada, todo mundo sabia que só existia uma chance. Eles teriam de enfrentar a hostilidade dos países ao redor e a concorrência dos árabes para tomar posse do território, sem margem para errar. Só tinham uma chance de fazer o país dar certo. E precisavam agir rápido para não perdê-la.
Esse sentimento de medo gera um alto senso de urgência, o que é muito positivo também pra quem está empreendendo. A sensação de que essa é sua única chance de fazer o negócio dar certo, cria uma vontade enorme de fazer, em vez de ficar planejando. No fundo, o sentimento de perda — para o concorrente, por exemplo — nos faz tomar decisões mais rápidas, colocar em movimento nossas ideias e aprender com a execução.
Com isso, toda a população teve que se envolver na construção de escolas, estradas, estrutura de governo, entre outras coisas.
QUANDO AS PESSOAS SÃO COFUNDADORAS DE UM PAÍS, CRIAR UMA EMPRESA FICA MUITO MAIS FÁCIL.
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O mais interessante é perceber que a formação cultural do país impulsiona os valores que fomentam o empreendedorismo, por meio de duas instituições: o exército e a religião.
A guerra contínua gera um amadurecimento rápido dos jovens empreendedores. Para sempre estarem preparados, todos (homens e mulheres) têm de ficar no mínimo 3 anos em treinamento militar pesado no exército. Como resultado disso, os jovens de 17 anos são expostos à complexidade da vida e, quando saem dessa experiência, estão prontos para a guerra e também para o mundo brutal e competitivo que vivemos. É nesse momento, que os valores são enraizados e moldam a visão de mundo dos israelenses.
Valores que são, essencialmente, empreendedores:
Cumpra sua missão, independentemente de como vai fazer;
Faça mais do que planeja;
A morte está sempre perto, por isso, seja intenso na sua vida.
Além disso, o judaísmo como religião dominante do país promove a cultura do questionamento. Se hoje, eles são considerados os empreendedores mais inovadores do mundo, em parte, isso se deve à liberdade de questionar qualquer modelo existente. Por um lado, isso é extremamente positivo porque cria ambientes abertos à inovação. Por outro, essa característica impede que eles conduzam o negócio até a fase de escala e crescimento. É muito comum que os empreendedores israelenses desenvolvam e testem uma nova solução, para depois, vendê-la a uma organização maior que vai dar escala global. O melhor exemplo disso é o Waze que só atingiu o mercado global, depois de ter sido adquirido pelo Google.
Uma das empresas que nós conhecemos, liderada por Shai Agassi, é exemplo disso. O empreendedor que já trabalhou com Steve Jobs, presidiu a SAP e foi um dos inventores do carro elétrico, agora investe em uma startup que tem como objetivo prolongar a existência humana. Isso mesmo, ele aposta suas fichas em uma empresa que quer nos tornar imortais.
O que mais me marcou na conversa que tivemos com Shai é o profundo interesse que ele tem em resolver os problemas da humanidade. Se o nosso maior exemplo de empreendedor ambicioso é Elon Musk, Shai Agassi é a prova de que existem mais pessoas pelo mundo sonhando com um futuro completamente diferente para a humanidade. Ter ele como referência me encheu ainda mais de confiança para realizar o sonho grande da ACESSO: Criar um novo Google a partir do Brasil. Quem disse que será impossível?
O que mais me encanta dessa viagem para Israel é trazer na bagagem atitudes e comportamentos de um povo com uma história completamente diferente da nossa, mas que nos serve de inspiração e referência. Na minha visão, temos que nos tornar bons copiadores. Mentalmente, nós podemos copiar os efeitos de pessoas e culturas que admiramos, mesmo não tendo vivido as causas.
O próprio Jorge Paulo Lemann conta que não construiu nada do zero: a cultura da Ambev foi totalmente inspirada no que ele viu funcionar no Walmart e no Goldman Sachs, por exemplo. É desse caldeirão cultural que podemos construir uma cultura mais empreendedora por aqui.
Precisamos plantar em nossos próprios ecossistemas as pequenas sementes que podem mudar o nosso país. E quem sabe, assim, também nos tornarmos cofundadores do Brasil.
Conteúdo publicado originalmente na página da Endeavor e cedido gentilmente ao Administradores.com.

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