Ana Carolina Dias tem microcefalia. Aos 25 anos, ela conta o caminho
até a universidade, os episódios de preconceito e fala da importância
do apoio da família
Por Leopoldo Rosa
Colaborou Priscila Carvalho
Quando a discussão sobre microcefalia atingia altos decibeis nas
redes sociais, um depoimento emocionado silenciou as vozes e nos fez
parar para ouvir verdades de quem já convive com a diferença há muito
tempo:
'O preconceito existe de todas as
formas. Eu enfrentei, os casos que eu conheço enfrentam todos os dias o
preconceito, as crianças...as pessoas falam 'essa criança é retardada',
mas não é assim que a coisa funciona. Como a nossa característica física
é muito proeminente, dá pra ver bastante, tem aquelas brincadeirinhas,
piadinhas, até doença contagiosa falaram que eu tinha'
Ana Carolina Dias é jornalista. Formada em uma universidade do Mato
Grosso e ativista dos direitos das pessoas que tem, como ela, essa
má-formação. Falar e ser ouvida sobre isso é novidade. Quando ela
nasceu, no início dos anos 90, a má-formação ainda era desconhecida e
tratar disso era caro e confuso:
'Na época em que eu nasci o
tratamento ainda era muito caro e não tinha quase nada. A gente não
tinha nenhum tipo de norte, não sabia nada do negócio, a gente foi dando
tiro no escuro. O médico foi falando, aconselhando meus pais 'vamos ver
isso, ver o que vai acontecer de agora em diante', porque era muito
pouca coisa que se sabia e até hoje é assim. Até hoje a informação ainda
é muito pouca.'
Nas lembranças de infância da menina Ana, os primeiros registros de
uma criança como outra qualquer que passou a perceber em si mesma e nos
olhos dos outros, um quê de diferente:
'Eu só fui me tocar que eu era diferente quando eu saí de casa,
assim, fisicamente. Até então, eu só ouvia meus pais falando 'não, você
tem microcefalia', desde pequenininha, eles nunca me esconderam porque
eu fazia tantas cirurgias e tudo mais. Mas o lance de ver que eu
realmente era diferente nas outras crianças só aconteceu quando eu fui
pra escola'
Da família, veio o apoio e a autoestima que precisava pra seguir:
'Meu pai principalmente, que me
estimula a ser determinada, lutar pelo que eu quero e tudo mais. Meu pai
pra começar sempre me estimulou muito a estudar, ele que me estimulou a
começar a ler também, ele lia. Então assim, meu pai sempre foi muito
presente nessa parte.'
Numa página na internet, Ana responde dúvidas e encoraja mais que
acabaram de ter diagnóstico de microcefalia nos filhos. Ela admite que a
própria história é fora da curva e que já teve muitos desafios. Mas diz
que não deixará de transmitir o que, pra ela, ajudou na vitória:
esperança.
'Não ficar na cabeça aquele
diagnóstico do médico. Todo médico fala: sua filha não vai andar, sua
filha não vai falar, meu pai escutou isso. Primeiramente, acreditar no
filho dele. Falar 'não, eu vou acreditar nele e vou fazer o possível pra
ele ter uma vida o melhor possível. E segundo, não desistir. O meu
conselho é esse'
http://cbn.globoradio.globo.com/series/viver-com-microcefalia/2016/03/11/O-PRECONCEITO-EXISTE-DE-TODAS-AS-FORMAS-ATE-DOENCAS-CONTAGIOSAS-DISSERAM-QUE-EU-TINHA.htm
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