Quem o seu preconceito matou hoje?

Foto: Daniela Felix

“Eu acho um absurdo. Não sou obrigado a ficar vendo sem  vergonhice. Esse monte de gay ficarem se beijando….”. Ouvi essa frase enquanto esperava o ônibus e passei o dia pensando na definição de “sem vergonhice”. Não consigo entender o porque de tanto ódio destilado. É o mesmo ódio que acha que mulher tem que sempre dizer sim, que preto é ladrão, que nordestino é burro e preguiçoso e que na favela só tem bandido. É a tradição perpetuada pelo machismo, pela intolerância e pelo preconceito. Não entendo essa guerra. Não deveríamos estar lutado entre nós. Fazendo do outro o inimigo. Essa bandeira de uma moral que devasta tudo no caminho, não deveria ser empunhada com tanto orgulho, deveria sim, ser destruída.
Esse desprezo pelo outro, ao ponto de torná-lo um mero objeto que deva ser descartado, só gera violência e morte. Pra mim, a definição de “sem vergonhice”, de barbaria, é outra: Segundo o banco de dados do Grupo Gay da Bahia (GGB). o Brasil está entre os países que mais mata pessoas LGBT. Só em 2015, um crime de ódio aconteceu a cada 27 horas. Além disso, 119 travestis brasileiras foram ASSASSINADAS. E os estados de São Paulo (55) e a Bahia lideram o ranking de assassinatos (33).
O preconceito faz vítimas todos os dias. Mortes violentas de LGBT foram documentadas em 187 cidades. Em números, 2015 fechou o ano com 318 assassinatos e a culpa é sua. A culpa é sua, é minha, é do Estado, do vizinho machista, da senhora sentada no ponto que se levantou quando uma trans sentou-se ao seu lado. Do pai que tentou estuprar a filha para ensiná-la a ser mulher. Da mãe que virou o rosto da filha e atravessou a rua ao ver duas mulheres se beijando. Dos adolescentes de classe alta que espancaram um rapaz gratuitamente, só pelo fato dele ser homossexual. Da mídia que notícia tão pouco. Da polícia que prende menos ainda. Das leis e dos nossos governantes que transformam impunidade em realidade para quem é branco, rico e hétero.

Você diz que não aceita casamento entre pessoas do mesmo sexo. Que permitir que “essas” pessoas adotem uma criança é um absurdo. Mas o que isso tem haver contigo? Por que a vida do outro, o amor do outro, te causa tanta repulsa? Por que você precisa se meter em algo que NÃO LHE DIZ RESPEITO?

Aceitar que o outro tem os mesmos direito que eu, estando ou não com alguém do mesmo sexo, é entender que por mais se sejamos diferentes, temos o direito de escolher. Machucar o outro, por qualquer razão, não torna ninguém justiceiro, detentor da verdade e da honra, torna a pessoa apenas uma babaca, criminosa, e preconceituosa. O mínimo que podemos aceitar do outro é respeito. E ninguém deveria ter que perder sua vida pela falta dele. A luta, a cada dia, precisa ser essa.

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