Empreendedorismo Internacional: Percepção Inicial

Atualmente fala-se muito sobre o empreendedorismo e de como essas discussões tomaram conta do Brasil nos últimos 10 anos. Ser seu próprio patrão, enxergar oportunidades onde ninguém vê, assumir a responsabilidade profissional de sua vida... desta forma, as pessoas que nunca empreenderam acabam por imaginar que ser um empreendedor é fácil e que qualquer pessoa disposta a abrir seu negócio poderá ser um grande empresário de sucesso. Entretanto, sabe-que que a realidade é bem mais cruel do que este mundo “criado” muitas vezes pela “Indústria do Empreendedores de Palco” (citando o texto fantástico escrito pelo Ícaro de Carvalho, segue o link: http://papodehomem.com.br/por-que-a-industria-do-empreendedorismo-de-palco-ira-destruir-voce), onde o mundo dos negócios realmente se resumiu a incentivos motivacionais muitas vezes de pessoas que nunca fizeram na prática absolutamente NADA. A realidade no mundo é bem mais complexa, dando como exemplo quando no filme dos Caça Fantasmas os personagens são expulsos da Universidade como pesquisadores, e o personagem do Bill Murray sugere a ideia de abrir o negócio de “Caçar Fantasmas”, e o personagem do Dan Aykroyd responde: ”Na Universidade a pesquisa era fácil e não precisávamos produzir nada, eu já trabalhei no setor privado, e lá eles querem resultados...”.

Mas este não é o foco do texto, e sim dar uma visão ampla de como vemos o empreendedorismo atualmente, quer dizer, como o vemos fora do Brasil, pois a realidade em nosso país é bastante diferente. No EUA por exemplo, as crianças já são incentivadas a empreender desde cedo (já vimos em filmes muitas crianças vendendo limonada para poder comprar algo que queriam muito), e assim, eu imaginava que na Europa era da mesma forma, e me surpreendi, vendo in loco que o Empreendedorismo por aqui possui peculiaridades interessantes.

Atualmente moro em Coimbra (terceira maior cidade de Portugal, atrás do Porto e de Lisboa), e vi que apenas a 4 ou 5 anos que se começou a falar de empreendedorismo em Portugal como forma de sustentabilidade financeira pessoal ou como eles falam aqui: gerar o auto emprego. Em 2008, como a economia do país estava boa e a taxa de desemprego era muita baixa, cerca de 7,5%, poucas pessoas viam no empreendedorismo uma alternativa de vida profissional. A partir do momento em que Portugal entrou em crise, e a taxa de desemprego subia a cada ano, chegando a mais de 16% em 2013 e a quase 40% para os jovens de até 25 anos, o empreendedorismo foi visto como alternativa para os jovens que se formavam, mas que não tinham onde trabalhar. Assim surgiram diversos incentivos por parte do Governo, e as Universidades começaram e ver que o apoio ao Empreendedorismo por parte da academia também era uma forma de ajudar os jovens, porém, apenas em 2013 que foi criada a primeira disciplina de Empreendedorismo no curso de Gestão na Universidade de Coimbra, umas das mais antigas do mundo com 725 anos de existência.

Dentro desta perspectiva, é notório ver que, as empresas existentes atualmente em Portugal, em sua grande maioria são geridas geralmente por pessoas mais velhas, acima dos 50 anos de idade. Claro que, como no Brasil, o incentivo a Startups fez com que alguns jovens se destacassem rapidamente no cenário global através da tecnologia, mas no mercado em geral, empresas de Indústria, comércio e serviços são ainda dirigidas por gerações mais antigas que a atual. Assim, a forma com que as empresas são geridas são bem diferentes do Brasil, pois sabe-se que as gerações anteriores em sua maioria criam mais barreiras em relação as mudanças do que a atual. A utilização de Redes Sociais como ferramentas de marketing é um simples exemplo disto. Atualmente a comunicação direta com seus clientes através das redes sociais é fundamental para que as empresas possam se aproximar dos seus clientes, e assim entender suas reais necessidades e por fim poder gerar valor para estes, seja através de um produto ou de um serviço.

Mas será que só Portugal é assim? Tive a oportunidade de passar a virada de ano na França e também de conviver e conversar com alguns franceses, e por lá o incentivo ao empreendedorismo é ainda menor que em Portugal. Tentei entender os motivos, e consegui ver através de uma percepção pessoal que o medo de arriscar é maior do que deixar sua “estabilidade”, mesmo que em um emprego privado, pois um salário mínimo por lá é de 1.200 €, atualmente pela cotação do dia, em média de R$ 5.460,00, e mesmo com o euro a este valor (1 € = R$ 4,56), o custo de vida em relação a moradia e alimentação comparado ao Brasil é quase igual se não for mais barato. Lembrando que estamos falando em um salário mínimo para pessoas sem formação superior, ou seja, com uma boa formação ganha-se ainda melhor. Sendo assim, como se ganha muito bem, é mais fácil se manter na estabilidade e trabalhar suas 35h / semanais (sim, e a jornada de trabalho ainda é menor que no Brasil) do que tentar ser empreendedor com todos os riscos que existem nesta profissão. Entretanto, neste ano a taxa de desemprego na França pela primeira vez nos últimos anos ultrapassou a casa dos 10%, e quem sabe em um futuro próximo eles possam ver a ousadia de se tentar um “auto emprego” seja uma boa alternativa, tanto para os jovens quanto para economia nacional.

Também tive a oportunidade de conhecer outros países como a Holanda, a Bélgica e a Espanha, e posso afirmar que, apesar de ter passado menos tempo nesses países, a realidade da União Europeia não diverge muito dos exemplos que dei acima, e analisando de forma “crua”, é visto que na maioria dos países europeus, o índice de jovens empreendedores aumenta de forma diretamente proporcional a taxa desemprego do pais, ou seja, em sua maioria são empreendedores por necessidade e não por oportunidade.

Também quero falar que, como deixei claro no título, esta é apenas uma percepção inicial sobre o Empreendedorismo Internacional, já que apenas analisei de forma superficial como está o ponto de vista do Empreendedorismo na Europa baseado em leituras e experiências pessoais, sendo assim a visão de um “Crítico Empresarial”, que como os críticos culinários, muitas vezes julgam o restaurante por um único prato, mas que não deixa de ser sua visão pessoal naquele momento, porém, sujeito a falhas. Mesmo assim faço questão de deixar meu ponto de vista para que os leitores possam depois tomar suas próprias conclusões.

Por fim, em breve trarei outros textos sobre o empreendedorismo internacional, porém falando de setores específicos. Não por acaso usei a analogia de um crítico culinário no parágrafo acima, exatamente porque será por onde irei começar no próximo texto, falando sobre os empreendimentos no setor de Bares e Restaurantes, e também fazendo comparações entre o Brasil, que atualmente segue uma tendência forte de Food Trucks, e na Europa com seus restaurantes e Chefs requintados. Até o próximo texto.

“O verdadeiro ato de descoberta consiste não em encontrar novas terras, mas em ver com novos olhos”. Marcel Proust

 

Tarcyo Tomyres Alves
Graduado em Administração pela UFPB, Mestrando em Gestão com a linha de pesquisa voltada para estratégia pela Universidade de Coimbra, Portugal. Possui experiência como Gestor de diversos Programas no Serviço Público. Criador do Encontro Paraibano de Empreendedorismo, o evento pioneiro de empreendedorismo no Nordeste e um dos primeiros do Brasil, em 2014 irá para sua 7ª edição. Palestrante nas áreas de Liderança, Geração Y, Estratégia e Empreendedorismo, tendo palestrado inclusive em Portugal no Fórum Brasil: Negócios e Oportunidades. Atua na gestão prática, voltada para o aproveitamento potencial das pessoas, a dedicação,esforço e foco no que se deseja alcançar: o sucesso! Autor do livro ‘‘Ferramentas para Gestão de Resultados", publicado pela Editora SENAC-DF em 2013. Diretor Executivo e Sócio da StratBond Consulting Brasil, empresa de Consultoria estratégica que foi criada em Portugal e que começa a atuar no Brasil em 2014.

#Fale conosco

Nome

E-mail *

Mensagem *