Relatório divulgado pela ONU nesta semana revela que mulheres
e crianças que chegam à Europa na condição de refugiadas teriam sido
estupradas por europeus como forma de “pagar” pelas documentações
necessárias ou mesmo pela própria viagem
Por ACNUR
Mulheres e meninas refugiadas e migrantes que se deslocam pela Europa
enfrentam graves riscos de violência sexual e de gênero, destacou um relatório conjunto divulgado pela Agência da ONU
para Refugiados (ACNUR), o Fundo de Populações das Nações Unidas
(UNFPA) e a Comissão para Mulheres Refugiadas (WRC, sigla em inglês).
O ACNUR, o UNFPA e a WRC realizaram uma avaliação de campo sobre os
riscos envolvidos na trajetória de mulheres e meninas refugiadas e
migrantes na Grécia e na Macedônia, em novembro de 2015, e concluíram
que as mulheres representavam o grupo mais vulnerável e que necessitavam
de medidas adicionais de proteção. O relatório aponta que diversas mulheres e meninas refugiadas e
migrantes já haviam sido expostas a diferentes formas de violência
sexual e de gênero tanto em seu país de origem, quanto em seu primeiro
país de refúgio, assim como ao longo da viagem de chegada à Europa.
Algumas mulheres entrevistadas afirmaram terem sido forçadas a manter
relações sexuais como moeda de troca para “pagar” pelas documentações
necessárias para viajar ou mesmo pela própria viagem. Em alguns casos,
mulheres e meninas foram tão relutantes em adiar a sua partida e a de
suas famílias que se recusaram a denunciar crimes de violência sexual e
de gênero, ou mesmo a procurarem atendimento médico.
“Muitas mulheres e meninas que viajam por conta própria estão
totalmente expostas, não podem contar com sua família ou comunidade para
as proteger”, disse Vincent Cochetel, diretor do escritório do ACNUR
para a Europa. “Mesmo aquelas que viajam com a família são vulneráveis a
abusos. Muitas vezes elas não relatam os crimes e, portanto, não
recebem o atendimento que necessitam. Algumas mulheres contam que
chegaram a se casar por desespero”.
Este relatório conjunto foi o primeiro produto de uma série de
projetos e estudos que agências de ajuda e assistência estão realizando
para que se possa avaliar com precisão os problemas existentes e
recomendar ações assertivas para solucionar estas questões. O relatório apontou que “mulheres solteiras viajando sozinhas ou com
crianças, mulheres grávidas e lactantes, meninas adolescentes, crianças
não acompanhadas, crianças que se casam precocemente (que em alguns
casos estão com seus bebês recém-nascidos), pessoas portadoras de
necessidades especiais e pessoas idosas estão particularmente em
situação de risco e exigem uma resposta coordenada e eficaz de
proteção”.
Devido as severas condições de inverno deste mês, menos pessoas têm
arriscado suas vidas em viagens marítimas para tentar chegar à Europa em
comparação aos meses anteriores. Entretanto, uma média de 2.000 pessoas
chegam por dia e as estatísticas mostram que uma porcentagem crescente
delas são mulheres e crianças. Até o dia 15 de janeiro de 2016, 55% das pessoas que chegaram eram mulheres e crianças. Em junho de 2015 eram apenas 27%.
Mediante as restrições impostas pelo governo e com o aumento do controle das fronteiras, as instalações de recepção e de trânsito podem ficar superlotadas e sob tensão, elevando ainda mais os riscos para as mulheres e meninas. Além disso, refugiadas e migrantes desesperadas podem recorrer a rotas ainda mais perigosas nas mãos de contrabandistas. “A saúde e os direitos das vítimas de guerras e perseguições – especialmente mulheres, adolescentes e jovens – não deveriam ser tratados como uma reflexão posterior na resposta humanitária. O UNFPA está trabalhando com parceiros para garantir que as mulheres refugiadas e migrantes tenham acesso aos serviços de saúde sexual e reprodutiva e que possam se prevenir e combater a violência de gênero”, disse o Dr. Babatunde Osotimehin, diretor executivo do UNFPA.
A resposta humanitária nas rotas do Mediterrâneo oriental e pelos
Bálcãs ocidental tem priorizado a prevenção da violência sexual e de
gênero em todas as atividades implementadas. A capacidade de prevenir,
identificar e responder de forma adequada, no entanto, depende em grande
parte dos Estados e Agências da União Europeia em assumir suas
condizentes responsabilidades e adotar medidas apropriadas.
“Pelo fato das instalações de recepção na Europa não terem sido
feitas para prevenir ou responder à violência de gênero, mulheres e
crianças não estão recebendo a proteção que necessitam e merecem”, disse
Sarah Costa, diretora executiva da Comissão de Mulheres Refugiadas.
“Deveríamos nos comprometer com as intervenções que sabemos que irão
ajudar, incluindo a contratação de especialistas de violência sexual e
de gênero ao longo da rota”. A missão conjunta descobriu que a resposta atual dos governos,
organizações humanitárias, instituições e agências da União Europeia e
organizações da sociedade civil são inadequadas e não conseguem evitar e
responder com eficácia ao perigo, exploração e múltiplas formas de
violência de gênero que mulheres e meninas estão enfrentando por toda a
Europa.
Como exemplo, apesar das tentativas do ACNUR e de seus parceiros em
garantir o bem-estar por meio de abrigos segmentados por gênero, muitos
carecem de privacidade, acesso seguro à água, saneamento adequado,
centros de saúde e áreas para descanso para mulheres e crianças,
expondo-as a um potencial risco de violência sexual e de gênero.
O relatório destacou algumas recomendações-chave para os governos e agências da União Europeia:
. Estabelecer um sistema de resposta coordenada para a proteção de mulheres e meninas dentro e fora das fronteiras;
. Reconhecer os riscos de proteção, capacitar funcionários e criar procedimentos específicos para prevenir, identificar e responder à violência sexual e de gênero;
. Garantir que as respostas à violência sexual e de gênero não façam com que as mulheres parem de denunciar os acontecimentos, ou deixem de acessar esses serviços; e
. Fornecer vias legais para a proteção, especialmente para mulheres, crianças e sobreviventes de violência sexual e de gênero, incluindo o reagrupamento familiar, e a priorização do realojamento e reinstalação para refugiados com necessidades específicas.
. Reconhecer os riscos de proteção, capacitar funcionários e criar procedimentos específicos para prevenir, identificar e responder à violência sexual e de gênero;
. Garantir que as respostas à violência sexual e de gênero não façam com que as mulheres parem de denunciar os acontecimentos, ou deixem de acessar esses serviços; e
. Fornecer vias legais para a proteção, especialmente para mulheres, crianças e sobreviventes de violência sexual e de gênero, incluindo o reagrupamento familiar, e a priorização do realojamento e reinstalação para refugiados com necessidades específicas.
Foto de capa: Reprodução
http://www.revistaforum.com.br/2016/01/28/mulheres-e-criancas-sao-estupradas-como-forma-de-pagar-entrada-na-europa/
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