Os 50 tons da assexualidade

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Na era da revolução sexual, tudo parece permitido – menos ser assexuado. Por que é tão difícil para nós aceitarmos alguém que diz não ter vontade de fazer sexo? Na maioria dos casos, é porque isso não parece natural. Mas a ciência sabe muito pouco sobre essas pessoas, e o que sabe não aponta para nada de errado acontecendo com elas. Então, talvez esteja na hora de revermos nossos preconceitos.

Ainda mais porque existem muitos que se identificam com essa filosofia – por exemplo, o estilo de vida foi abraçado por 80.000 usuários registrados na Asexual Visibility and Education Network (Rede de Educação e Visibilidade Assexuada).

Muitas subcategorias

Dado que ninguém fala sobre (ou estuda) isso, os que se consideram assexuados tem se reunido para discutir o que sentem e criar suas próprias nomenclaturas. O debate aumentou em 2001. Desde então, fóruns, sites, blogs e Tumblrs têm se tornado ponto de encontro para os que se acham fora dos limites sexuais tradicionais.
A taxonomia pode ser confusa e aparentemente sem fim: existem os assexuais-cinzas, que se identificam em algum lugar entre a assexualidade e o interesse convencional; demisexuais, que só sentem atração em um relacionamento muito profundo; heteroromânticos, que desenvolvem sentimentos não sexuais por membros do sexo oposto; panromânticos, que podem sentir atração não sexual por pessoas de qualquer gênero e muitas outras denominações. Esses termos foram criados quase inteiramente online e não necessariamente descrevem identidades fixas, mas servem mais como balizas para as pessoas localizarem outros que pensam como elas. Assim, embora os rótulos pareçam grande coisa, os assexuados não são apegados a linguagem – além de tenderem a ser muito confortáveis com a ideia de que eles podem mudar de opinião (ou categoria).

Apenas uma fase?

Como sempre acontece com algo novo e que não entendemos direito, amigos e família muitas vezes não são encorajadores ou compreensivos. Eles acham essas identidades estranhas e assumem que é uma “fase” ou que algo está seriamente errado. A sabedoria convencional hoje é de que luxúria e gratificação são naturais e saudáveis. Nós presumimos que a liberdade sexual é um direito humano fundamental. Mas a ideia de se libertar de toda a sexualidade ainda é radical. Além disso, há uma grande variabilidade. Alguns demisexuais e assexuais-cinzas têm ocasionais crises de desejo, enquanto outros dizem que são indiferentes ao sexo, e outros o acham completamente repelente. Como seres humanos, tentamos criar um motivo para isso. Seria uma parada no caminho para a homossexualidade, ou talvez o resultado de trauma ou de um desequilíbrio hormonal? Hum… Não.

O que a ciência diz

Há pouca pesquisa sobre a assexualidade ou suas variações, então não existem muitos dados confiáveis de quantas pessoas consideram-se assexuadas. Uma pesquisa realizada em 2004 no Reino Unido estimou que 1% da população é de alguma forma assexuada; outras avaliações variam entre 0,6 a 5,5%. Mas os poucos psicólogos que têm explorado a assexualidade concordam: pessoas que não querem fazer sexo não estão necessariamente sofrendo de algum distúrbio. “É um conceito que é tão estranho para a maioria das pessoas que eles acreditam que deve haver alguma explicação patológica”, diz Lori Brotto, professora de psicologia e ginecologia na Universidade de British Columbia. Embora não haja nenhuma prova definitiva de que os hormônios não têm nada a ver com isso, a maioria dos assexuais passa pela puberdade normalmente e não parece ter problemas hormonais ou fisiológicos. Em um dos estudos de Brotto, as respostas de excitação física das mulheres assexuadas não foram diferentes de outras mulheres.

Preconceito

Para as pessoas que sofrem de transtorno hipoativo do desejo sexual – perda de libido -, a condição é preocupante porque eles se lembram e sentem falta desse sentimento. Em contrapartida, a maioria dos assexuais nunca sentiram forte desejo sexual, por isso, se dizem muito bem, obrigado. Os amigos e a família, nem tanto. Um estudo de Brotto com 806 homens e mulheres, publicado em 2013 na revista Psychology & Sexuality, descobriu que problemas de saúde mental podem ser mais comuns entre assexuais, talvez como resultado do estigma e isolamento. As pessoas assexuais relatam que sofrem pressão para namorar e transar. Em geral, eles não se consideram “perseguidos” tanto quanto evitados e ridicularizados.
Em um pequeno estudo recente realizado por dois psicólogos da Universidade Brock no Canadá, assexuais foram avaliados negativamente. As pessoas disseram que eles parecem “menos humanos”.

Visão limitada

Talvez essa ideia de que “há algo errado” com os assexuais ou de que eles não parecem “humanos normais” seja apenas uma consequência de não se discutir sobre isso abertamente na sociedade, e de não se fazerem tantos estudos para compreender melhor essa orientação sexual. As pessoas que se identificam assim lamentam a invisibilidade quase completa da assexualidade e suas variações na cultura popular. Recentemente, a comunidade ficou em êxtase quando o criador da famosa série “The Walking Dead” sugeriu que o querido personagem Daryl fosse assexuado. Se nada mais, os assexuais acreditam que podem contribuir para mostrar diferentes “versões do amor”, independentemente da orientação sexual, visto que nossos relacionamentos podem ser bastante limitados. Mesmo a definição mais progressista da sexualidade normal e as expectativas sociais sobre ela são muito estreitas. Se as pessoas podem se conectar e formar novos tipos de relacionamentos que misturam e combinam elementos de luxúria (visto que assexuais normalmente não fazem sexo, mas podem se masturbar ou gostar de literatura erótica, por exemplo), intimidade, vida doméstica, romance e paixão, talvez outros também possam. Talvez não seja legal que a gente queira que todos os relacionamentos sejam iguais e sigam um roteiro pré-estabelecido. Talvez haja mais surpresas ao longo do espectro sexual do que gostamos de reconhecer. 

http://hypescience.com/os-50-tons-da-assexualidade/

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