O empreendedorismo social que vem da favela

Rene Silva é editor do jornal A Voz da Comunidade desde os 11 anos de idade

O Complexo do Alemão, considerado um dos maiores conjuntos de favelas da América Latina, possui cerca de 180 mil moradores. Imagine retratar a vida de tantas pessoas nas páginas de um jornal mensal. Esta foi a proposta de Rene Silva, que com apenas 11 anos de idade teve a ideia. Segundo Rene, na época, ninguém confiou que o projeto de um moleque poderia dar certo.
Hoje, aos 21, o jovem soma várias conquistas adquiridas através do A Voz da Comunidade: desde o nome figurando na lista da Forbes como jovem prodígio até palestras na universidade de Harvard. Atualmente, seu jornal comunitário, aquele "projeto de moleque", possui uma tiragem de 10 mil exemplares e patrocinadores como a Coca-Cola e Casas Bahia. Rene Silva conversou com o GeraçãoE durante o 28º SET Universitário da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) e deu a dica: "empreender é resolver problemas."
GeraçãoE - O nome Rene Silva, desde o surgimento do A Voz da Comunidade, aparece na mídia ligado a cases de empreendedorismo social. O que isso representa?
Rene Silva - Me considero um empreendedor da comunicação. Acho que empreendedorismo é criar algo que a população precisa e fazer este trabalho crescer. Empreendedorismo é isso: ver quais são as necessidades, criar e tentar, através disso, resolver problemas.
GE - Como você vê a questão do jovem de classe baixa que quer empreender, mas não pode parar de trabalhar?
Silva - As pessoas que moram na favela são muito criativas. Aliás, a favela nasceu da crise. O que acontece é que o jovem pobre é empreendedor nato. A gente acaba se virando de um jeito ou de outro. Eu acho que muitos dos grandes talentos estão nas favelas empreendendo socialmente.
GE - Qual o maior desafio para empreender?
Silva - O maior desafio, além da burocracia que assusta muita gente, é buscar referências dentro de seu território. Principalmente quando se fala de negros ou de favelas, muitos não têm visibilidade. A falta de referência faz com que menos pessoas se destaquem dentro do empreendedorismo. São poucos os moradores da favela que aparecem na mídia de modo positivo, aí as pessoas querem empreender e acabam frustradas, se sentindo solitárias no meio. É preciso mostrar quem está empreendendo para que mais pessoas criem coragem.
GE - Mostrar quem inova dentro das favelas sempre foi uma preocupação do A Voz da Comunidade?
Silva - A ideia de mostrar os empreendedores surgiu justamente da falta da visibilidade. Eu acredito muito que as pessoas precisam se ver. O portal A Voz das Comunidades sempre destinou um espaço para mostrar quem está empreendendo dentro das favelas. São pequenos comerciantes, profissionais liberais. Isso vem de uma preocupação em mostrar este lado empreendedor, ignorado pela grande mídia - que insiste em mostrar só o crime e a violência.
GE - Qual é a grande dica sua para quem quer empreender?
Silva - A pessoa, antes de mais nada, tem de acreditar nos seus sonhos e fazer o que tem desejo. Sonhar grande ou sonhar pequeno não faz muita diferença, então é melhor sonhar grande do que sonhar pequeno.
O empreendedor também precisa saber qual é a real necessidade. Muita gente cria algo sem saber se aquilo tem mesmo necessidade de existir, e aí vem o fracasso. A pessoa tem de criar tentando enxergar no que aquilo pode ser útil para o outro.
http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2015/10/ge/entrevistas/459704-o-empreendedorismo-social-da-favela-tem-espaco-no-a-voz-da-comunidade.html

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