Estudante pediu para a direção da faculdade onde estuda apurar comentários depreciativos de professora. Acabou repreendida!
Rio
- O resultado de inquérito administrativo feito pela Faculdades
Integradas Hélio Alonso (Facha) para apurar comentários preconceituosos
de uma professora sobre a Síndrome de Down causou revolta. O episódio
ocorreu em agosto, quando a professora Ana Lúcia Gregati atacou os
portadores da síndrome ao falar sobre um trabalho para sua disciplina, em mais um caso de docentes da universidade envolvidos em casos de discriminação.
"Não
me venha com documentário sobre gente com síndrome de down, porque
podem até achar bonitinho, mas aquilo é horrível, não é normal, não
adianta, eu odeio ver. Agora vem aí dez semanas de dr. Drauzio Varella,
com esse tema. Um saco. Quem quer ver isso?!", indagou a docente. Ela
estaria se referindo à série "Qual é a diferença?", que o "Fantástico",
da TV Globo, começou a exibir no mês passado.
A Facha abriu processo interno para apurar os fatos e a única
punida foi a aluna Elisa de Souza Pinto, que rebateu a fala de Ana
Lúcia Gregati em sala e recebeu uma carta de repreensão disciplinar na
semana passada. Depois em post no Facebook relatou os fatos, o assunto
ganhou a imprensa, mereceu as atenções do senador Romário (PSB-RJ), que
tem uma filha portadora da síndrome e milita pela causa no Congresso. De
acordo com o inquérito realizado pela Facha, que ouviu outros
estudantes, Elisa e Ana Lúcia Gregati, a fala da professora não conteve
nenhum tipo de preconceito ou discriminação. A faculdade condenou também
o fato de a aluna ter feito a postagem em seu Facebook, e que isso
seria uma "ofensa" à professora.
As medidas
tomadas pela universidade geraram reações contrárias. Em nota, o senador
Romário afirmou que "o resultado do inquérito não chega a conclusões
objetivas, em minha opinião injustas, como no caso de punir a aluna,
mesmo que com uma repreensão. No Brasil,
crimes de preconceito, infelizmente ainda são relativizados", disse o
parlamentar. A ONG Movimento Down também divulgou nota repudiando as
decisões da Facha. "No inquérito transparece a preocupação dos alunos e
professores em preservar o bom nome da faculdade, em detrimento de
encarar a questão do preconceito dentro de sala de aula", diz o texto
postado na página do grupo no Facebook. A Facha prometeu organizar
evento sobre preconceito e liberdade de expressão.
O
inquérito realizado pela faculdade também acusa a aluna Elisa de ter
usado seu post nas redes sociais para 'pautar' a imprensa com sua versão
dos fatos. O documento cita a amizade dela com a jornalista Kamille Violla, com quem trabalhou no DIA,
e que tem um irmão portador da síndrome de Down. "Um processo desse
tipo deixa a impressão de uma tentativa de silenciamento.Estou sendo
punida por ter levado esse episódio para fora dos muros da faculdade.
Fato assustador ao se considerar que estamos falando de uma faculdade de
Comunicação Social", afirmou Elisa. A jornalista Kamille Viola também
criticou a punição dada pela universidade. "Nós desabafamos nas redes
sociais. O post foi muito compartilhado e acabou na imprensa. Se não
tivesse repercutido assim, talvez nem tivesse tido qualquer atitude da
faculdade. Com a repercussão, vários alunos relataram situações de
preconceito na faculdade. As pessoas têm medo. E o fim dessa história só
mostra que têm medo com razão",declarou. O Sindicato dos Jornalistas do
Rio se solidarizou com Elisa e também atacou a Facha.
Elisa
questionou o inquérito, que contou com a participação de professores
colegas de Ana Lúcia Gregati,e afirmou que já esperava a relativização
do preconceito. "Essa situação não me trouxe nenhum benefício, só uma
exposição indesejada, dor de cabeça e uma injustíssima e arbitrária
advertência. Mas também mostrou que ainda há gente lutando por uma
sociedade justa", afirmou. A reportagem tentou entrar em contato com a
professora Ana Lúcia Gregati, mas não houve retorno às ligações.
Outro lado
Dois
dias após a publicação da reportagem, a assessoria da professora Ana
Lucia Gregati entrou em contato e enviou a nota de resposta abaixo com
sua versão dos fatos. Sobre a acusação feita pela aluna Elisa de
Souza Pinto, a professora Ana Lucia Gregati informa que não cometeu
nenhum tipo de preconceito, como foi comprovado no inquérito.
A
professora é contra qualquer tipo de preconceito, além de ter
consciência da responsabilidade de seu papel como professora e
jornalista formadora de opinião e de futuros profissionais. Além disso,
Ana Gregati alerta que a aluna infringiu todas as normas e éticas
jornalísticas ao acusar sem provas. Desde o dia da divulgação do texto da aluna, a professora vem recebendo ameaças em suas redes sociais.
Durante
a apuração do inquérito acadêmico administrativo aberto pela Faculdades
Integradas Hélio Alonso (FACHA) foram ouvidos 16 alunos e 14
confirmaram, em seus depoimentos, que a professora não agiu de maneira
preconceituosa. Cabe ressaltar que a apuração foi feita por meio de
depoimentos dos alunos que estavam em sala de aula e presenciaram tal
fato.
A comissão responsável pelo inquérito contou com membros de
integridade comprovada em todos os âmbitos de suas vidas, pessoais e
profissionais. A professora não foi procurada pelos veículos de
comunicação e preferiu aguardar a conclusão do inquérito para poder se
pronunciar.
http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2015-09-24/aluna-que-denunciou-preconceito-contra-portadores-de-sindrome-de-down-e-punida.html
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