Movimentos populares apoiam o fim de conflitos armados

Militante da Marcha Patriótica reitera importância de participação popular na busca pela paz

Suzy Scarton

O presidente Juan Manuel Santos cancelou a suspensão dos bombardeios sobre os acampamentos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) na semana passada. A justificativa foi um ataque, atribuído às guerrilhas, que matou 11 militares e feriu 19 pessoas em Timba, no departamento de Cauca, no dia 14 de abril. Um guerrilheiro também teria sido morto.

O ataque encerrou o cessar-fogo unilateral e pode prejudicar as negociações de paz com o governo colombiano, iniciadas em Havana, capital de Cuba, em 2012. As Farc, por sua vez, culparam o governo publicamente pela retomada da violência no país. O conflito armado já dura mais de 50 anos sem que uma pausa permanente seja acordada. O grupo é formado por cerca de 8 mil combatentes, mobilizados essencialmente nas zonas rurais.

O militante da organização popular Movimento Político e Social Marcha Patriótica (Mapa), criado em 2012, Sergio Andrés Quintero Londoño esteve na Capital na sexta-feira para participar de um evento preparatório ao "II Fórum pela paz da Colômbia - Por uma América Latina em paz e livre do militarismo", que será realizado entre os dias 5 e 7 de junho, em Montevidéu, no Uruguai. Quintero espera recrutar organizações que apoiem o fim dos conflitos. Atualmente, cerca de duas mil organizações colombianas, principalmente as de viés político esquerdista e humanitário, fazem parte das articulações pela paz. O principal objetivo do fórum e das tratativas que o precedem - Quintero já visitou Curitiba e Florianópolis - é promover o diálogo em prol do término do conflito armado e de reformas políticas, econômicas e sociais de modo a fortalecer a democracia.

Para Quintero, embora a necessidade do fim do conflito seja amplamente reconhecida, seis pontos ainda retardam as negociações. "As questões de terra e território, participação política, narcotráfico, vítimas, fim do conflito e elaboração de referendo ainda são discutidas nas negociações em Havana", comentou. De acordo com o militante, já existem acordos a respeito das três primeiras. A quarta questão, que diz respeito às vítimas, está sendo negociada. Restam as duas últimas. "A agenda completa precisa ser acordada. Caso contrário, não é possível negociar a paz." Durante os diálogos, ficou acordado que os camponeses pobres receberiam acesso a terras, que a conversão da guerrilha em partido político seria facilitada e que o combate ao narcotráfico e às minas terrestres seria fortalecido.

A ideia de propor um referendo para facilitar as reformas que a Colômbia precisará no pós-conflito é vista com receio pelo militante. Para Quintero, um referendo limitaria a participação popular. "A melhor opção é organizar uma Assembleia Nacional Constituinte, que objetive o fim da guerra, a ruptura com a dinâmica militarista e a construção de reformas fundamentais para o país", alegou.

Ainda assim, ele reconhece os avanços nas negociações. "Acordos de paz já foram feitos entre a insurgência e o governo. Foram rompidos, é verdade, mas já houve conversas com esse fim. Há também a participação das vítimas, que têm sido ouvidas, e isso é inédito", comentou. Quintero mencionou que generais do governo e representantes das Farc já conversam para encontrar soluções.

Durante as cinco décadas de conflitos, estima-se que 220 mil pessoas tenham sido mortas. Outras 5 milhões foram desalojadas. De acordo com Quintero, 9.500 civis, a maioria representante de lideranças, estariam encarcerados como presos políticos. O governo nega e afirma que os detentos são terroristas. "As alegações para as prisões são sempre de apoio ou financiamento ao terrorismo", contou. De acordo com o militante, as perseguições militares já levaram ao desaparecimento de mais de 150 mil colombianos. Para fins de comparação, durante a ditadura argentina, a mais dura do continente latino-americano, foram 30 mil desaparecidos. Cerca de seis milhões de camponeses estão refugiados. Quanto às mortes causadas pas Farc, Quintero afirmou não possuir dados oficiais.

http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=194234

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