O ativismo virtual é inútil!?

Não, digo logo de cara. Em muitos casos, pode ser importante e produtivo.
Afinal, todo texto bem feito e pertinente, mesmo que tenha poucas palavras, pode fazer alguém refletir. E, quem sabe, mudar de opinião. Uma foto interessante, inusitada, provocadora também.
Palavras e imagens vazias há em todo lugar. Palavras e imagens que apenas reforçam o senso comum ou defendem ideologias, de esquerda ou de direita, prontinhas para o consumo rápido.  
De fato, há mais propaganda do que militância na internet. E não apenas nela.  
A impressão é que o mundo todo se apropriou da linguagem da publicidade e passa o dia inventando slogans para buscar impacto imediato. Para gerar aquele “WOW!” geral e uma chuva de comentários e curtições.
Polêmica vende, pensamento não.
A política está virando uma batalha de influência sobre os surveys, as pesquisas de opinião. Não uma atividade para ampliar as fronteiras do possível.
Tudo errado, mas tudo bem. Todos os espaços podem ser disputados e há várias maneiras de fazer isso. Publicidade contra publicidade, frase vazia contra frase vazia, tudo acaba se anulando, à espera de vida inteligente.
Em algum lugar.
O problema começa quando passamos a confundir os militantes virtuais com as forças sociais que eles supostamente representam. E começamos a ouvir o que eles têm a dizer ao invés de descer até o chão da sociedade.
Onde acontece o que mais importa.
Um ativista qualquer, de esquerda ou de direita, precisa ter uma trajetória que lhe proporcione a vivência profunda de problemas sociais complexos.
Não existe solução fácil para quase nada na vida. Sempre há posições em conflito, é sempre necessário negociar e ceder.  Por isso, é preciso saber diferenciar o essencial do secundário. E ter legitimidade para falar em nome dos seus representados. Para adquirir legirtimidade é preciso estar profundamente implicado e envolvido nos problemas sociais. 
Pois são pessoas reais aquelas realmente implicadas nos conflitos. São elas que vão sofrer as consequências das decisões que forem tomadas. O risco é principalmente delas.
Quanto mais longe os ativistas estiverem do chão social, mais fácil ser “radical”. Mas fácil achar soluções mirabolantes e definitivas: basta não ouvir ninguém e inventar, do nada, sua base social. 
E este é um problema a ser enfrentado por ativistas virtuais, intelectuais radicais e juristas militantes. O impulso de radical deve ser temperado com uma imersão o mais profunda possível na realidade.
Ser uma liderança é um trabalho de diálogo constante, exaustivo, infinito, exasperante. Um trabalho que não se resolve com a invenção de slogans e frases de efeito. E nem se faz apenas sentado no trono de um apartamento esperando a revolução chegar.
É preciso encarar as ambiguidades das pessoas reais que quase nunca concordam entre si. Divergem sobre o que é essencial e têm medos e fragilidades com os quais é preciso lidar. 
Dar voz e importância a radicais virtuais, ou seja, que operam no vácuo, faz com que percamos completamente o pé da realidade.
Não adianta vociferar contra tudo se não sabemos formular alternativas viáveis para os implicados no conflito. Se não tomamos parte ativa nos debates que definem o que as pessoas pensam e querem de fato.
Se não somos capazes de traduzir tudo isso em demandas e projetos de curto, médio e longo prazo.
Desconfio que parte da perplexidade de todos diante da atual onda de manifestações se deve a esta má virtualização da política.
Como não há mais jornalistas – e os poucos que restam não têm outro remédio senão se informar pela internet ou por email – estamos perdendo o pé da realidade. Não estamos mais vendo o que é o essencial.
Pois a política que realmente importa ainda se faz do modo antigo, desconfio. Chamando as pessoas para conversar sobre os problemas. Pensando em conjunto sobre medos e fraquezas. Quebrando a cabeça para achar soluções.
Reforçando a coragem e afinando a inteligência na ação militante.  
É preciso sair à rua de fato, cada um de seu jeito, cada um em seu ambiente. Assumindo riscos reais e colocando seu corpo, seu tempo, sua carreira, sua reputação e suas ideias a serviço de um objetivo qualquer.
A internet pode ajudar e muito, mas é mero auxiliar. Ela nunca será a estrela na festa da política.

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