O número de desempregados que estão no mínimo há um ano sem trabalho dobrou nos países desenvolvidos nos últimos 5 anos, após o início da crise financeira mundial, e já atinge 17 milhões de pessoas, afirma um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), divulgado nesta terça-feira (18).
O relatório Panorama da Sociedade 2014 analisa o impacto da crise econômica na vida das populações por meio de uma série de indicadores, como emprego, renda, pobreza, saúde, imigração e demografia. O estudo abordou a crise financeira de 2007 e 2008.
— A tormenta financeira de 2007 e 2008 provocou não apenas uma crise econômica e orçamentária, mas também uma crise social.
Desde 2007, há 15 milhões de desempregados a mais nos países da OCDE, totalizando, atualmente, 48 milhões de pessoas.
Mais de um terço delas (17 milhões) estão sem trabalho há pelo menos um ano, o que a organização define como "desempregados por longo prazo".
Preocupante
Para a OCDE, esse total de pessoas sem emprego por um longo período é preocupante.
— Com um número cada vez maior de pessoas sem experiência profissional recente, com competências que se desvalorizam e que as empresas têm reticências em contratar, as fileiras de desempregados desencorajados, que não procuram mais ativamente um trabalho, não param de aumentar.
O relatório apontou que, a longo prazo, pode prejudicar a carreira e saúde mental das pessoas.
— Com o prolongamento da duração do desemprego é muito mais difícil converter uma retomada econômica hesitante em uma recuperação efetiva da economia que permite criar empregos. O desemprego, particularmente o de longo prazo, pode prejudicar as perspectivas de carreiras futuras e pesar na saúde mental das pessoas, além de aumentar os custos sociais.
Em três países da zona do euro — Espanha, Grécia e Irlanda — o número de pessoas que vivem em lares onde ninguém recebe renda decorrente de atividades profissionais dobrou nos últimos cinco anos.
A taxa média de desemprego na OCDE aumentou em três pontos percentuais entre meados de 2007 e meados de 2013, totalizando 9,1%.
A Espanha e a Grécia registraram uma alta de 18 pontos percentuais no período, diz o estudo.
Espanha, Estados Unidos e Irlanda são os países onde mais cresceu a proporção de pessoas sem emprego há no mínimo um ano em relação ao total de desempregados. Na Irlanda, esse aumento chega a 30 pontos percentuais.
Já no Brasil, a taxa de desemprego caiu de 9,3% em 2007 para 7,4% em meados de 2013, segundo dados do IBGE.
Jovens
Os jovens, homens e pessoas com pouca qualificação profissional são os mais afetados pela deterioração do mercado de trabalho nos países da OCDE.
A taxa de desemprego de jovens entre 15 e 24 anos aumentou 7 pontos percentuais entre 2007 e 2013 nos países da OCDE. Em países como Grécia, Espanha e Portugal, o desemprego dos jovens aumentou pelo menos 20 pontos percentuais no período.
O secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, afirma que o desemprego pode trazer impactos permanentes na vida dos jovens.
— Os jovens que enfrentam longos períodos de desemprego ou pobreza correm o risco de serem confrontados durante toda a vida a perspectivas profissionais e de renda menores. Hoje, mesmo se a situação econômica dá sinais de retomada, a situação social, ao contrário, não melhorou e continua se deteriorando, em alguns casos fortemente.
Ele aborda ainda a dificuldade crescente das pessoas em arcar com os gastos cotidianos.
— Há cada vez mais pessoas que declaram ter dificuldades para enfrentar as despesas do dia a dia, tendência observada em 26 países da OCDE desde 2007.
"As consequências sociais da crise poderão perdurar vários anos", afirma o estudo.
Segundo a OCDE, o desemprego e a redução da renda têm outras consequências sociais, como a saúde, a formação de uma família, a fecundidade (casais que adiam a decisão de ter filhos), o que pode agravar os problemas demográficos e de financiamento das aposentadorias ligados ao envelhecimento das populações.
Mas esses efeitos, ressalta a organização, somente serão sentidos a longo prazo.
O secretário-geral da OCDE, Gurría, diz que a prioridade é preservar as políticas sociais.
— A prioridade hoje é que as políticas sociais possam resistir à crise, ou seja, estejam aptas para enfrentar as piores situações causadas pela economia mundial.
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