A panaceia dos direitos humanos

Quando a Organização das Nações Unidas surgiu com aDeclaração Universal dos Direitos Humanos, em 1945, parecia querer lançar uma palavra de ordem com apelo quase religioso. O Ocidente do século 20, saído de duas grandes guerras, traumatizado com o então recente Holocausto, passando pelo embate do capitalismo, já na fase monopolista, e do socialismo, vitorioso nos países do Leste europeu, apontava para um chamamento aos oprimidos, explorados e colonizados pelas potências europeias. Parecia, é verdade, querer expiar um mea-culpa. Se a ONU tornou-se o xerife do imperialismo americano, o jargão direitos humanos tornou-se o arauto da democracia.
Mas, qual democracia? A questão, que nunca é feita, inunda os meios de comunicação de forma indiscriminada, levando os incautos – estudantes, cientistasempresários, donas decasa, esposas de políticos, todos de boa-fé – a bradarem por uma liberdade, por um legalismo, pela ordem em praça pública dissimulando, no entanto, os diferentes interesses entre as classes.
Este é o tom que encontramos no bombardeio da contrainformação da mídia americana explodindo na internet, nos debates das salas de aula, nas telas das TVs, nos rádios e na imprensa escrita. Novamente, em uma cantilena e em voz uníssona, o sentimento de pertencimento de todos converge em uma única direção: o Ocidente. Todos querem ser ocidentais, da Ucrânia à Venezuela. E tal como um Cérebro desembestado, os chefes de Estado daqueles países são acusados, simplesmente, de violarem os direitos humanos, o que até já entrou para o anedotário dos jornais policiais televisivos.
O desprezo pelas conquistas da humanidade sob o manto de uma panaceia dos direitos humanos finge ignorar a diferença entre a democracia saída dos então revolucionários de 1789 e a democracia conquistada em 1917. Se a democracia popular não é igual ao populismo, tampouco o socialismo não é o comunismo. O que se observa na Venezuela é, em parte, a expressão de uma vontade, onde o povo com consciência de si e para si, se expressa no apoio ao seu líder, enquanto na Ucrânia o povo, talvez, expressa a “fase superior do capitalismo”, ou a caminho do capitalismo monopolista, para fazer vingar o infeliz “fim da história” de Francis Fukuyama, ou a vitória da democracia classista americana em todos os azimuts.
*Maria Luísa Nabinger, historiadora, é professora associada, aposentada da UniRio.

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