Prefeitura de Salvador enfrenta protestos na derrubada da "favelinha"

Sete estabelecimentos foram demolidos na manhã de ontem, na Favelinha, como é conhecida a comunidade situada entre os prédios mais nobres da Avenida Magalhães Neto. A ação foi comandada pela prefeitura no intuito de liberar o espaço público que vinha sendo ocupado de maneira irregular.
Alguns comerciantes, que há mais de 30 anos se estabeleceram no local, chegaram a tentar impedir a ação dos agentes da prefeitura e foram contidos pela Polícia Militar e Guarda Municipal. Muito material apreendido,  vazamento de gás e protestos aconteceram durante a desocupação.
De acordo com moradores da localidade, a demolição dos estabelecimentos teve início por volta das 5 horas da manhã. No local, funcionavam bares, restaurante, lava-jato, barbearia e lanchonete, situados à beira da Avenida Magalhães Neto.
“Eles já tinham tudo planejado, mas em momento algum comunicaram ou deram qualquer tipo de prazo para nós sairmos daqui com nossas coisas”, reclamou Denise de Jesus 30 anos, dona de uma lanchonete que também foi derrubada na operação.
Segundo ela, ainda no sábado, toda a comunidade da Favelinha teve o abastecimento de água suspenso, já anunciando o que aconteceria ontem pela manhã. Além de ter o estabelecimento destruído, Denise teve todo o material da lanchonete apreendido. “Eles simplesmente arrombaram o cadeado e levaram tudo, não me apresentaram um documento, um mandado judicial, nada, simplesmente levaram o que é meu e destruíram meu ganha-pão”, desabafou.
Padrão
Realizada por uma empresa terceirizada, a demolição destruiu toda a construção edificada fora do padrão da região, seguindo a linha horizontal dos prédios, no entanto, alguns estabelecimentos que não estavam fora do padrão também foram atingidos. “Meteram o trator no meu salão de beleza que não tinha nada a ver, estava dentro do padrão da rua, e levaram tudo lá de dentro.
Quem vai pagar o prejuízo?”, questionou a proprietária do estabelecimento.
Espaço público
De acordo com a prefeitura, os estabelecimentos ocupavam área pública e o objetivo da operação foi devolver o espaço à população. Em relação às apreensões, o município informou que o local abrigava atividades comerciais e de serviços informais não regulamentados.
O dono de uma borracharia que também foi alvo da operação, Herber Clay Alves, contestou a ação da prefeitura. Segundo ele, embora não tenha tido o estabelecimento demolido, ele, assim como demais comerciantes da área, tiveram o material levado pelos agentes municipais.  “Como é que eles fazem uma ação desta sem nos comunicar ou apresentar qualquer tipo de documento? Chegaram de madrugada, levando o que é nosso. Agiram como verdadeiros ladrões, na calada da noite”, criticou.
Vazamento de gás
O trabalho de demolição dos estabelecimentos acabou perfurando a tubulação de gás natural que alimentava os restaurantes da área. O acidente causou correria e espanto àqueles que assistiam a ação, devido ao perigo de incêndio. Durante cerca de 40 minutos, o vazamento continuou, à espera da chegada de profissionais da Bahiagás para o corte do fornecimento do combustível. De acordo com um funcionário da empresa que não quis se identificar, a Bahiagás não foi comunicada sobre a ação da prefeitura.
“Estes casos de perfuração de vias públicas devem ser comunicados com  antecedência à empresa, para que o trabalho preventivo seja realizado, sem oferecer perigos à população”, afirmou o funcionário. Ainda segundo ele, a ação poderia ter causado um grande incêndio.
Mesmo sem fogo, o vazamento deixou pessoas feridas. Foi o caso do lavador de carros Rogério Luís, que ao correr para tentar se proteger caiu entre os escombros. “Além de não ter mais onde trabalhar, estou aqui todo arranhado e levei quatro pontos no joelho”, relatou.
Demarcação
Inconformados com a ação municipal, os comerciantes questionam a demarcação da área pública na Favelinha. Na mesma direção do espaço antes ocupado por estabelecimentos comerciais, edifícios vizinhos utilizam a área como estacionamento particular. “Eles dizem que temos de sair daqui porque é espaço público e deve ser desocupado. E a continuação do terreno ocupada por estes prédios seja privado?”, questionou Laerte José dos Santos, 52 anos, frequentador da região.
Segundo ele, a ocupação da comunidade naquela área considerada nobre sempre foi alvo de críticas não só do poder público, mas principalmente de moradores dos edifícios vizinhos. “Essa comunidade se estabeleceu antes mesmo da chegada destes edifícios, pertencia a uma família que hoje não tem mais ninguém vivo”, contou.
Morador da Favelinha, Herber diz que os habitantes da região já têm o direito de posse do terreno por usucapião, já que vivem na região por muito tempo. “Não adianta ninguém tentar nos retirar daqui. Nós sabemos que esta área é muito cobiçada por construtoras, já ouvi relatos de que seria até uma área prometida, mas a lei está do nosso lado”, continuou. Segundo ele, a causa do uso do terreno na parte interior da Favelinha está na Justiça.
Favelinha

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