Já no segundo semestre, as aulas recomeçaram e, na Escola Municipal Criança Feliz, no bairro dos Bultrins, os alunos só têm lápis e caderno porque alguns pais conseguiram comprar. "O material escolar foi a gente mesmo que comprou porque até agora não chegou nada. Desde o primeiro dia de aula que eles não mandam", lamentou a estudante Ana Clécia Gomes.
Os livros também não foram entregues. Os alunos contam que, para dar aulas, os professores revezam livros antigos que restam na escola entre as turmas dos tunos da manhã e da tarde, o que compromete o aprendizado. "A professora passa as tarefas de casa no quadro e a gente leva para casa, mas quase ninguém faz", disse o aluno Fábio Silva, de 10 anos. "Às vezes ela até manda um livro para casa, mas se a gente não trouxer de volta, não entra".
O desempregado Gildo Henrique da Silva divide o que sobrou de material escolar do ano passado entre os filhos. William, de 8 anos, ficou com a mochila rasgada. "Dividi. Metade para ele e metade para a irmã Camila. Não pude comprar para os dois porque estou desempregado, parado. E não sou só eu, não, todo mundo é assim. Um tem, outro não tem", afirmou o pai.
Os pais e responsávels pelos estudantes estão cansados de cobrar providências à direção da escola. A aposentada Almerinda da Silva está desacreditada. "Esse ano, se não chegou até agora, não chega mais. A previsão é só para o ano que vem mesmo", disse.
A equipe de reportagem do Bom Dia Pernambuco não pode entrar na escola. A vice-diretora mandou avisar que procurássemos a Prefeitura de Olinda. Uma professora de outra escola da rede municipal de ensino de Olinda, que não quis se identificar, procurou a equipe depois da reportagem e contou que o kit escolar está em falta em todas as escolas municipais de Olinda. "Para sair todo mundo, é melhor que seja com farda para identificar, para não perder os alunos. O material também fica a desejar. Alguns pais podem até comprar um caderno, mas às vezes os alunos vêm me pedir. E eu não tenho condições de ficar sustentando, todo dia dar um lápis a um aluno", afirmou a professora.
Sem livros, a professora diz que faz pesquisas pela internet, em casa, para ter material para dar aula. As escolas também estao sem cadernetas, o que compromete o registro correto da frequência em sala de aula. "Eu anoto a frequência dos alunos, todo o planejamento e os registros de aula eu tenho, para quando a caderneta chegar. Esse ano bateu o recorde. É para a gente receber quando começa o ano e estamos agora no segundo semestre e ainda não chegou a caderneta", continua ela.
Na escola municipal Izaulina de Castro Silva, no bairro de Ouro Preto, a situação não é diferente. Os alunos chegam sem farda, sem calçados apropriados, e dizem que as mães compram os materiais quando podem. A secretária do Sindicato dos Professores de Olinda, Dalva Maria Barbosa, afirma que o sindicato recebe uma série de queixas com relação à entrega de materiais. "Até o momento, não se justifica nenhuma das desculpas que a secretaria tem apresentado. É um ano de licitação, um ano de mudança de empresa e nossas crianças estão aí sem material", declarou, em entrevista nesta terça-feira (30).
Ela reconhece também a gravidade da falta dos diários de classe para os professores, que não podem registrar o planejamento. "Tem professor que até hoje uma um caderninho paralelo porque não tem diário de classe. É toda a vida escolar; se algum aluno pede transferência para outro município, a ficha dele tem que sair com todas essas informações. Não é só em uma escola, é em toda a rede municipal", concluiu.
A reportagem convidou representantes da Secretaria de Educação de Olinda e a Prefeitura respondeu que ninguém poderia falar, por causa de demandas internas. Quanto ao fardamento escolar, a Secretaria de Educação disse que a compra está em fase de licitação. É que houve mudança da empresa fornecedora. Essa troca foi um pedido da rede escolar, que exigia mais qualidade no material.
Quanto à entrega dos kits escolares, a Secretaria informou que as amostras do material didático estão em fase de análise por parte da Prefeitura de Olinda. A Secretaria deu um prazo de 15 dias para dar andamento ao processo licitatório.