Exclusivo: Carol Marra conta que vai mudar de sexo e fala sobre preconceito


A modelo Carol Marra fará a cirurgia de mudança de sexo em dezembro
Foto: Divulgação
Roberta Figueira
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Uma das modelos mais comentadas da última edição do Fashion Rio, a transexual Carol Marra volta às passarelas cariocas. Ela já está confirmada para três desfiles da semana de moda da capital do Rio e a lista ainda pode crescer. Em São Paulo, Carol ainda não confirmou sua participação em nenhuma apresentação, mas está cotada a subir à passarela representando as marcas Colcci e R. Rosner.
 
Mesmo com a agenda cheia, a top finalmente conseguirá fazer a cirurgia de mudança de sexo. “Vou operar em dezembro, aqui no Brasil mesmo. Já está marcado”, revelou durante entrevista exclusiva ao Terra. Em cerca de dois anos como modelo, Carol teve uma ascensão rápida e, recentemente, estreou no primeiro desfile internacional. “Acabei de voltar de um desfile em Paris. Mas, diferente do que todo mundo acha, o preconceito é ainda maior lá fora. Meu agente não falou em momento nenhum que eu era transexual, eles não sabiam”, contou.
 
Mesmo com o sucesso, a modelo ainda encara muito preconceito. Mas, se por um lado, muitas vezes não consegue nem ser recebida pelos produtores de castings, por outro, foi convidada para ser a primeira transexual a estampar uma capa da revista masculina Trip. “Não me sinto bonita ou gostosa, mas fiquei muito envaidecida com o convite”, afirmou.
Confira a entrevista completa com a modelo Carol Marra:
 
Terra: Você estreou este ano no Fashion Rio e agora retorna às passarelas cariocas. Vai participar de quais desfiles?
Carol Marra: Vou desfilar novamente para Victor Dzenk. E também vou participar do desfile da Patachou e de mais uma grife do Rio de Janeiro.
 
T: Já deu uma espiada na coleção ou fez prova de roupa?
CM: Ainda não. Está longe ainda, esse tipo de coisa acontece apenas um dia ou dois antes do desfile.
 
T: Você já desfilou no Rio e em Mina Gerais. Tem planos para participar de um São Paulo Fashion Week?
CM: Participei de alguns castings, mas ainda é bem complicado. Tem muito produtor que não quer nem me receber. É uma grande falta de respeito. Eu não escolhi ser transexual, é uma condição, eu nasci assim. Na passarela todo mundo está com a genitália coberta, então não importa. Isso me deixa muito triste. Parece que o sindicato das modelos está cogitando até criar uma cota para transexuais, como fizeram com os negros, para evitar esse preconceito.
 
T: Você já fez algum trabalho como modelo no exterior?
CM: Acabei de voltar de um desfile em Paris. Mas, diferente do que todo mundo acha, o preconceito é ainda maior lá fora. Meu agente não falou em momento nenhum que eu era transexual, eles não sabiam. Fui, desfilei e voltei sem ninguém saber. Se eles descobrissem, eu não teria conseguido subir na passarela, seria mandada de volta.
 
T: O que achou dessa experiência?
CM: Apesar de tudo, foi incrível. Foi meu primeiro desfile fora do Brasil, então acho que valeu a pena. Já estou meio calejada. Acho engraçado perceber que o maior preconceito vem do público gay. Eles pedem por respeito, mas muitas vezes não sabem respeitar os outros e nem a eles mesmos.
 
T: Antes da carreira de modelo, você era jornalista. Como surgiu o primeiro convite para modelar?
CM: Sempre gostei de moda. Depois de trabalhar um tempo em redação, comecei a fazer produção de moda. Os fotógrafos diziam que eu tinha uma beleza andrógina e acabei fazendo umas fotos. Depois disso surgiram outras fotos, uma amiga me chamou para fazer um catálogo e por aí foi. Passei no casting do Minas Trend, depois desfilei no Rio. Uma coisa foi levando a outra e foi tudo bem rápido. Já vai fazer dois anos que comecei a trabalhar como modelo de verdade.
 
T: Você acha que o fato de ser transexual ajudou ou atrapalhou de alguma maneira na carreira de modelo?
CM: Na área profissional eu acho que isso me ajudou, a mídia e a repercussão foram positivas. Mas, na vida pessoal, piorou. Eu me sinto um pouco invadida com essa exposição. Agora, qualquer coisa que eu faço pode virar notícia.
 
T: Qual foi o momento mais especial da vida de modelo até agora?
CM: O Minas Trend. Foi a primeira vez que minha família foi me ver. Esse momento de aceitação foi muito especial para mim. Eu realmente me emociono só de falar. É muito difícil para eles, especialmente para o meu pai. Sei que ele ouve muita coisa, comentários maldosos, que o deixam incomodado e magoado. No momento que estava naquela passarela, estava provando para todo mundo que eu posso, que transexual não está condenada à prostituição e à marginalização. É muito difícil você conseguir uma oportunidade, é cruel, mas eu consegui e provei para as outras que elas também podem. O primeiro desfile de moda praia também foi marcante. Foi muito bacana ouvir as pessoas comentando. E a capa histórica da Trip, a primeira com uma transexual, também foi incrível. Ouvi que as vendas foram ótimas. Não me sinto bonita ou gostosa, mas fiquei muito envaidecida com o convite.
 
T: Houve algum momento em que se sentiu constrangida ou incomodada de alguma maneira?
CM: Os momentos de preconceito são muitos, até dos próprios colegas de trabalho. Em situações assim, até chego a pensar se realmente vale a pena. A moda é muito mais glamour do que dinheiro na maioria das vezes. Mas, quando há alguém que olha com carinho, eu me animo. Sei que tem muitas modelos transexuais tão competentes quanto eu. De certa forma, estou sendo uma das pioneiras, estou ajudando a abrir espaço. Não é fácil, mas se eu souber de outras transexuais que estão desfilando e fazendo ensaios, tendo oportunidade, vou saber que tudo isso valeu a pena.
 
T: Quais são seus ídolos no mundo da moda?
CM: Adoro a Gisele Bündchen. Ela é um exemplo de excelência. Também gosto muito da Kate Moss. Agora, entre os estilistas, tem muita gente que eu gosto e admiro. Acho que há muitos incríveis é muito difícil escolher.
 
T: Você já foi comparada diversas vezes com a Lea T. Como se sente em relação a isso?
CM: Antes, havia até uma semelhança física, mas agora, nessa minha nova versão loiríssima, já não tem tanto isso. No início eu não ligava. Acho ela bacana, a admiro e desejo muita sorte para ela, porém, depois isso passou a me incomodar um pouco. As pessoas davam a entender que eu estava pegando carona na carreira dela e isso não tem nada a ver. Ela tem a história dela e eu a minha. Até evito falar nisso.
 
T: Quando as pessoas veem você desfilando de biquíni, é normal a curiosidade de saber como você faz para esconder o pênis. Como você aprendeu a fazer isso?
CM: A gente aprende com a vida mesmo. Como eu nunca aceitei minha genitália, sempre tentei escondê-la, então fui desenvolvendo técnicas. A transexual é diferente da travesti. A travesti aceita seu membro e até o usa na relação, mas o transex não. Por isso, precisa da cirurgia. No começo, me incomodava ver que o biquíni e a roupa mais decotada sempre ficavam para mim no desfile. Agora já entendo essa curiosidade. Se é isso que o pessoal quer, tudo bem.
 
T: Você já tem planos de fazer a cirurgia de mudança de sexo?
CM: Sim! Estou contando em primeira mão, hein? Vou operar em dezembro, aqui no Brasil mesmo. Já está marcado. Também já estou na justiça com a papelada para trocar de nome oficialmente e isso deve ser resolvido na mesma época. O ano de 2013 será muito especial para mim.
 
T: Como surgiu o nome Carol?
CM: Isso foi há muito tempo, durante um voo de Minas para o Rio. Na época eu ainda usava roupas meio andróginas, não tinha me assumido totalmente mulher. Um amigo meu disse que eu precisava de um nome e que tinha cara de Carol. Ele pegou um perfume Chanel e me batizou Carol ali mesmo. Esse perfume é meu cheiro até hoje.
 
T: Como é seu estilo na vida real, fora da passarela?
CM: Sou bem patricinha. Amo roupa e gasto quase tudo comprando roupas e sapatos. Tenho coisa com etiqueta em casa.
 
T: Tem alguma peça de roupa preferida ou um look que considere infalível?
CM: Tenho uma saia preta da Daslu que eu amo, me sinto poderosa com ela. Uma bela camisa também é uma peça ótima. E a calça jeans é curinga, não tem jeito.
 
T: Você toparia desfilar com roupas masculinas?
CM: Já fiz foto com roupa masculina, mas nunca desfile. Toparia numa boa. Acho que seria uma experiência bacana. Se um estilista, tipo João Pimenta, me convidasse eu aceitaria com certeza. Acho interessante essa moda andrógina. Foi essa tendência que abriu espaço para as modelos transex. Hoje existe um visual muito próximo, você não sabe muito bem quem é menino e quem é menina. Os homens muitas vezes têm traços angelicais e essa moda de maquiagem com aspecto de cara lavada também deixou as mulheres mais neutras.
 
T: Quais são suas perspectivas para sua carreira?
CM: Estou com 25 anos e sei que farei um desfile ou outro. Eu adoro fotografar e modelar, mas sei que é uma carreira curta. Eu não queria ser modelo, foi algo que aconteceu. Sou jornalista de formação e continuo fazendo algumas coisas de produção e texto. Mas o que eu quero mesmo é fazer cinema. Sou atriz também e em breve vou estrear no teatro. Estou estudando bastante e faço preparação de atores para cinema.
SPFW Inverno 2013
O Terra, a maior empresa latino-americana de mídia digital, transmite ao vivo os desfiles de inverno 2013 do São Paulo Fashion Week, com exclusividade para web, inclusive para tablets, smartphones e TVs conectadas. Entre os dias 29 e 31, os desfiles serão transmitidos direto do Parque Villa-Lobos na capital paulista, pela parceria entre o Terra e FFW, em um total de cerca de 3 horas durante o evento. Além das transmissões ao vivo, o Terra terá reportagens especiais em vídeo com Isabel Wilker e os blogs da apresentadora de TV Isabella Fiorentino e das jornalistas de moda Iesa Rodrigues, Rosângela Espinossi e Tatiana Sisti.
O maior e mais importante evento de moda da América Latina reúne 19 desfiles em uma edição extra, a terceira de 2012, responsável por finalizar a transição para o novo calendário da moda brasileira. A partir de 2013, os desfiles da coleção verão acontecerão em março de cada ano e os de inverno em outubro. Pulam esta edição as grifes Amapô, André Lima, Iódice, Juliana Jabour, Jefferson Kulig, Cavalera e Animale. Retorna ao evento Maria Garcia, segunda marca da estilista Clô Orozco, da Huis Clos, grife que não se apresenta desta vez.

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