Lobato, o racismo e o preconceito

*Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves
 
 
Movimentos anti-racismo insistem em restringir a utilização da obra de Monteiro Lobato na rede escolar. Depois de “Caçadas de Pedrinho”, de 1933, agora se tenta censurar o livro “Negrinha”, escrito em 1920. O preciosismo dos questionadores ignora o contexto de época e tenta buscar notoriedade através da crítica à produção do precursor da literatura infantil no país. Com isso, ocupa seu tempo na discussão de temas já sedimentados na cultura nacional das últimas gerações, em vez de tratar de questões mais objetivas e contemporâneas. Podem até obter o efeito contrário, potencializando o interesse pelas obras de Lobato.
 
O escritor tem de ser compreendido no contexto da sua época. José Bento Monteiro Lobato, nascido em 1882 e morto em 1948, viveu as atribulações de seu tempo, teve destacada atividade nacionalista e direcionou sua literatura para a formação da criança e do jovem, numa sociedade bastante diferente da atual. Não há brasileiro que com ele não tenha se deparado nos bancos escolares e se beneficiando de seus escritos, apesar dos escorregões étnicos, se analisados no contexto de hoje. As preocupações de contexto existem há anos, tanto que os órgãos educacionais e os editores já cuidaram disso através de notas explicativas e até do treinamento de professores para sua boa aplicação.
 
Um dos grandes patrimônios do povo brasileiro é a miscigenação. A cruza de elementos das diferentes etnias que para cá foram trazidos nas mais variadas situações, fez de nosso povo único e muito apreciado estética e culturalmente. Numa nação como o Brasil não há que se falar sobre cor de pele, origem e até de costumes. Os cinco séculos que nos separam do descobrimento fazem do brasileiro a mais perfeita mistura de todos os que aqui viveram e, cada um à sua forma, ajudaram a construir nossa etnia. Todos somos um pouco de tudo, inclusive das etnias que não fazem parte de nossa linha de ascendência, mas integram a cultura em que fomos criados. Logo, todo brasileiro é índio, branco, negro, oriental, etc… Nessas condições, os eventualmente racistas agem contra si próprios.
 
Em vez de lutar contra obras literárias ou de adotar posicionamentos que possam exacerbar o racismo, o preconceito e a discriminação, aqueles que sinceramente desejam um pais mais justo e solidário deveriam direcionar suas forças contra a pobreza, a falta de oportunidades, e procedimentos nocivos como, por exemplo, a paternidade irresponsável. Quanto à cor da pele, até por uma questão prática, cada um deveria ter orgulho da sua própria. Bonito ou feio é questão subjetiva, intimamente ligada às ações do próprio indivíduo…
 
*Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)

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